A pagina
branca esmaga o ensaio do verso
Sob o fardo
do vento gelado do norte
Em
Minnesota.
Montanhas
de gelo se erguem
Durante as
frias madrugadas
Fazendo
sombra aos pobres carros
Cobertos de
neve
Deslizando
pelas estradas.
Mas a vida
segue
E o planeta
gira
E o sol
dança ao redor do universo
Que também
cai
em direção
ao centro da galáxia.
(e a
galáxia sabe se la para onde ela cai...)
Nessa tempo
de fuga
Limpou o
sol dos montes de neve
E fez me
voar muitas leguas ao sul
Numa região
eternamente castigada pelo sol
Que se
conhece por Pernambuco
Mais
precisamente sua capital
A magnânima Recife!
A venérea Brasileira,
Carinhosamente
apelidada de Resífilis
Também codinomeada Manguetown.
Com calma
Observo teu
rio
Da janelo
do meu quarto
E juntos os
retalhos do que me dais
Do que me
tirais...
Recife,
Queria
fazer um grande poema pra ti
Uma
homenagem
Crítica e
amarga
Saudosa
Como os
sentimentos mistos
que guardo por ti.
Não te
renego
e te carrego
sempre
Involuntariamente.
Sinto teu
perfume de merda
Teu mangue
E bosta que
nela se mistura
Nos campos
floridos do Império,
por
contraste.
E quando
miro os parques e alamedas
De Minneapolis
Na grama bem cortada
só vejo sangue...
E o rio Mississípi
Ainda carrega em mim os lamentos
Dos que foram
pisoteados por essa maquina absurda
Para
aflorar em belos parques
Cuidadosamente
mantidos pela prefeitura.
Agora chove
em Recife
E olho da
janela do meu quarto
vejo o Capibaribe
Que corre preguiçoso
Carregando
somente nossa pobreza geral
Nossa ignorância
E todos os
dejetos dos grilhões que usamos
nessa nobre
colonia
Do Pau
Brasil.
Tenho
sentido o fardo
Dos
lamentos históricos
e me encharco do sangue dos jornais.
Faltam-me
heróis
desconfio
de revoluções
e me viro sozinho.
Procuro as
grandes solidões dos espaços abertos
somente
assim tranquilizo meu enjoo
dessas
formigas destrutivas
que chamam de civilização.
Quando não
tomado pela dor do mundo
Fujo
E me perco
em jogos
E doces remédios para a alma.
E a dor que
me sente é dobrada
a unica
coisa que me vale é desperdiçada
Inutilmente
Pelo prazer
imediato
Da carne e
do vinho.
Sonhei com
a grande virtude
E ensaiei
sublimes revoluções
Em que
almejaria a imortalidade
E escreveria
as palavras que comovem e inspiram
Mas
continuei sendo o da mansarda.
Estudo a
democracia no mundo
E sou cada
vez menos crente nela.
Prossigo somente com um cinismo afiado
E uma
fatalidade amarga
Que da o
tom do meu humor canalha.
Mas,
Recife,
lembremos
das coisas boas,
Da seleção
canarinha
Perdendo de
7 a 1 em casa.
Do doce
carnaval
No qual o
povo se distrai
E se
lambuza
De latão
quente em Olinda
Enquanto os políticos enchem seus cofres
Para
renovar a roubalheira.
Assim tenho
levado minha vida
Dissoluto
Perdido
Desesperançoso
Ciente da
morte a todo passo
Minimante ciente
da história
Para carregando
o asco pela humanidade toda.
Sentindo do
sol
Somente o efeito
estufa.
Meu corpo
acompanha minha disposição mental
E definha
Se deforma.
Anseio
pelos espaços abertos
Pelo pontal
da praia dos Carneiros
Onde
meditei sobre a passagem das horas
Com vento a me consolar
E as ondas
do mar me lembrando o eterno se desfazer
Que é meu único
testamento e fé.
Mas nada
disso importa
Gostaria
somente de fazer
Uma bem
humorada e trágica homenagem a ti
Resífilis
Gloriosa capital de Pernambucocos
Cuja prepotência só sobrepuja
A maior
avenida em linha reta do mundo!
E outros
grandes feitos memoráveis
Dos quais
nos orgulhamos demasiado.
Salve os
artistas pernambucanos!
Que fazem
beleza
Da lama em
Santo Amaro!
Que
transformaram
O homem caranguejo faminto de Castro
Num produto
cultural
Pronto para
ser exportado
Com o
patrocínio da Fundarpe
(Que nunca
paga na hora ou o acordado
Mas sempre
paga o suborno e o caixa dois
Infalivelmente.)
Salve, salve!
Glorioso
recife,
A venérea Brasileira.
Sentirei
muito a sua falta
Na minha
breve andança pelo mundo.
E em cada
reclamação que eu fizer
Sempre
carregarei o lixo das tuas ruas
E o fedor
dos teus canais
E a ignorância canalha e prepotente da tua elite que se empilha em prédios residencias de duvidável valor arquitetônico.
Salve o
Novo Recife!
Recife, 18
Julho de 2014